sábado, 19 de março de 2016

Ferroviária - A pedra no sapato dos gigantes


A próxima parada da nossa jornada pelo Paulistão deste ano estaciona em Araraquara, uma  cidade de muita tradição no futebol do estado e que abriga uma das equipes mais competitivas desta edição do campeonato, a Ferroviária.
Lembro que quando era criança e assistia os jogos do estadual, a Ferroviária me chamava muito a atenção, afinal, o que esse nome tem a ver com um clube de futebol? Pois bem, depois de crescido fui matar minha curiosidade e hoje, contarei um pouco da história deste tradicional clube do interior paulista.

Diferente dos clubes "jovens" que tratamos nos artigos anteriores, a Associação Ferroviária de Esportes (AFE) tem uma significativa representação junto aos clubes do interior do país. Disputou por 30 anos seguidos a divisão de elite do Paulista e também já chegou a Série A do Brasileiro.

Fundada em 12 de Abril de 1950 por funcionários da EFA - Estrada de Ferro Araraquara, decidiu-se pela sigla AFE no clube, por coincidência ou não, o contrário da sigla idealizadora. As cores Grená e branco, foram escolhidas após longo debate, pois muitos queriam as cores da cidade (azul e branco) e são uma homenagem as locomotivas da EFA, que se distinguiam das outras justamente pelo grená. O mascote da equipe é a Locomotiva, que "atropela os adversários". Há também o Maquinista, criado por um cartunista Lucas Lima, torcedor da Ferrinha, que mesmo não sendo o mascote oficial, é bastante utilizado na divulgação e marketing do clube.

O estádio, mesmo sendo municipal, é reconhecidamente a casa da Ferroviária. Batizado como estádio Dr. Adhemar de Barros, que foi um importante político brasileiro, é mais conhecido pelo nome de Arena da Fonte Luminosa. Reformado em 2008, hoje é uma moderna arena multiuso, com capacidade para 20 mil pessoas e possui um dos melhores gramados do país.

Muitos jogadores famosos já vestiram essa camisa grená. Dentre os mais conhecidos, estão o atacante Grafite, os meias Renato Cajá e Fumagalli, o ex volante e hoje técnico Dorival Júnior, o também ex volante Dudu, nascido em Araraquara e que depois se tornou um dos maiores ídolos da história do Palmeiras e por fim o meia Bazanni, ou Rubi, maior ídolo da Ferrinha.

Como já foi dito, a AFE fez grandes campanhas na elite do futebol brasileiro. No Paulista, já ficou em 3º lugar nos anos de 1959 3 1968, além de conquistar três vezes o título da A2. No âmbito nacional, disputou a primeira divisão do brasileiro por algumas oportunidades e chegou ao 12º lugar em 1983, além de ser vice-campeão da Série C, em 94. As conquistas mais reconhecidas são um tricampeonato Paulista do Interior, nos anos de 1967, 68 e 69, que inclusive foram representadas pelas 3 estrelas no escudo do clube.

Mas como o título deste artigo mostra, a campanha de 2016 no estadual é de dar inveja. Comandado pelo técnico português Sérgio Vieira, vem se destacando na liderança do grupo C, deixando em segundo lugar o poderoso São Paulo. Além disso, nesta temporada, nos dois jogos que teve com os gigantes do país, obteve grandes resultados. Um empate com o Corinthians em 2 a 2 quando foi superior durante toda a partida mas sofreu o gol de empate no fim e a vitória sobre o Palmeiras em pleno Allianz Parque por 2 a 1. Neste jogo, teve mais posse de bola, mais chances de gol e melhor desempenho. Aliás, esse é o grande destaque da Ferroviária, o desempenho em campo. Não é difícil analisar jogo por jogo da campanha no Paulista e concluir que sempre a Ferrinha foi melhor em campo. O time de Sérgio Vieira costuma impor seu ritmo nas partidas e o adversário, com pouca posse de bola, acaba encurralado pelo volume de jogo da AFE. É reconhecidamente uma das melhores equipes deste Paulistão e grande candidato à classificação para a próxima fase do estadual.

Técnico europeu,  estilo de jogo que impressiona e história reconhecida, tudo isso indica que a Ferroviária não está aí só querendo um prêmio de participação. Os adversários que se cuidem, inclusive os gigantes. A locomotiva está disposta a atropelar os adversários uma vez mais.


sábado, 5 de março de 2016

Água Santa, o debutante sensação



Para continuar o nosso giro pelos times de menor expressão do Paulistão 2016, nem precisamos ir tão longe da capital. A parada hoje passa pelo ABC, na cidade de Diadema. O tema deste artigo já diz muito sobre a equipe dos “aquáticos”. Pela primeira vez disputando o série A1 do estadual, a equipe vem fazendo bonito. Até aqui, são 7 jogos, 3 vitórias, 11 pontos ganhos e o segundo lugar no grupo D, que tem como líder o poderoso Corinthians. Ainda é cedo pra dizer se o Água Santa vai avançar para a próxima fase, mas a campanha como estreante já é digna de aplausos.

Fundado em 1981, o clube disputava apenas competições amadoras até 2011. Mas também, quando resolveu jogar pra valer contra os profissionais, a ascensão não parou mais. De 2013 a 2015 foram 3 acessos seguidos e agora faz história na elite do Paulistão. Idealizada por migrantes nordestinos, nortistas e até mineiros, conquistou os moradores da região, principalmente a partir dos anos 2000, quando começou a se destacar em competições da várzea. Tanto é que hoje calcula-se que sejam aproximadamente dez mil adeptos do clube, que sempre marcam presença no estádio Distrital do Inamar, a casa do Gigante de Diadema.

Pelo fato do estádio possuir apenas capacidade para 10 mil torcedores, ainda não se sabe se a equipe poderá mandar os jogos contra os grandes do Paulista lá. Até agora apenas uma goleada sofrida de 4×0 em confronto com São Paulo foi realizado em jogos diante dos maiores do estado.

Muitos jogadores famosos já passaram nesses quase 35 anos de clube. Claudecir, Dinei, Zinho e Capitão são apenas alguns deles. Mesmo na época sendo apenas um clube amador, contribuiu na formação de alguns jogadores  que hoje desfilam por clubes maiores do futebol  brasileiro, casos de Neilton (atacante) e Fábio Ferreira (zagueiro).

Hoje, vestem a camisa do clube alguns conhecidos que já jogaram por grandes times do Brasil, como Francisco Alex (meia ex-São Paulo), Guaru (meia ex-Guarani), Tchô (meia ex-Atlético Mg) e Eli Sábia (zagueiro-ex Santos).

As cores do clube obviamente homenageiam as águas. Azul e branco são predominantes no escudo e nos uniformes. Além disso, o mascote “Netuno”, em alusão ao rei romano dos mares, também justifica a admiração pelo elemento vital para a vida. O motivo pra tantas referências é o local onde ocorreu a fundação: próximo a estrada Água Santa e da represa Billings. O clube já enfrentou boatos de que era financiado por uma facção criminosa do estado e ganhou até o apelido de “time do PCC”, mas nada nunca foi comprovado. O próprio presidente do clube, Paulo Farias já ouviu estas insinuações mas com naturalidade desmente essa fama:


“Como era um time da várzea, milhões de pessoas passaram pela agremiação. E por ser em Diadema (considerada a 16ª cidade mais violenta de São Paulo em 2014), existia isso. Mas hoje não existe nenhum tipo de facção criminosa dentro da diretoria ou do clube. Pessoas mal intencionados espalharam esse boatos porque o time é de Diadema. E também foi espalhado por pessoas que são do time rival, o CAD (Clube Atlético Diadema) . Eu era sócio-fundador lá e teve um rompimento. Então saímos, assumimos o Água Santa e começaram esses boatos” comentou Paulo Farias, em entrevista ao portal terra.


Rivalidades à parte, Diadema hoje está festa com a representação da cidade no campeonato estadual mais equilibrado do país. O Esporte Clube Água Santa, um ex-time de várzea, é apenas mais um dos atrativos que o Paulistão oferece para a temporada 2016.